sábado, 23 de outubro de 2010

Quando o impossível é impossível

Quando nos deparamos com algumas situações, de cara temos certeza serem impossíveis contorná-las, e o mais sensato a fazer é enfrentar o problema sem fingir ou omitir seu real tamanho. Em alguns casos, resta aceitar a derrota e seguir em frente, buscar um novo começo.

As igrejas evangélicas no Brasil tem se especializado em dizer o contrário, afirmar que não há impossibilidades, e que com fé é possível fazer tudo. “Tudo posso naquele que me fortalece” -Filipenses 4:13.

Porém, quando pensamos além do convencional, quando lemos além do costumeiro, quando reflitimos de forma mais profunda, chegamos a um lugar situado por dúvidas e incógnitas, povoado por exemplos de situações que foram irremediavelmente frustrantes. É a hora de questionar as afirmações ouvidas a vida toda, e encontrar na Bíblia respostas mais complexas que o simples “Deus proverá”.

Talvez, se sua fé for baseada em um deus talismã, seja melhor que pare essa leitura agora. Se sua fé é cega, se foi ensinado que nada pode derrotá-lo, saiba que isso não é verdade e que suas escolhas geram consequências e sua responsabilidade sobre elas irá sempre existir. Se estiver pronto para ser confrontado, me acompanhe nessa reflexão.

Davi, um dos personagens mais marcantes na Bíblia, tido como o homem segundo o coração de Deus, nos ensinou que não temos de ser perfeitos e sim, humildes. Uma das lições que extraímos da biografia de Davi é que existem situações irreversíveis, ou seja, impossíveis. Quando Davi enviou Urias à morte para manter um affair com sua esposa, e desse adultério nasceu uma criança, Deus avisou a Davi que dentre outras coisas, tiraria a vida da criança. Por sete dias Davi jejuou e orou, pedindo misericórdia a Deus, porém a vida da criança foi tirada. Esse é um exemplo de situação incontornável, e está no capítulo 12 de 2 Samuel.

Moisés, o homem que Deus escolheu para guiar o povo pelo êxodo, que esteve na presença de Deus foi impedido de entrar na Terra Prometida, pois havia desobedecido com ira a uma determinação divina. Em Deuteronômio 3:25-27 vemos Moisés implorando misericórdia para entrar em Canaã e recebendo um sonoro não: ” ‘Deixa-me atravessar, eu te suplico, e ver a boa terra do outro lado do Jordão, a bela região montanhosa e o Líbano!’ Todavia, por causa de vocês, o Senhor irou-se contra mim e não quis me atender. “Basta”, ele disse. ‘Não me fale mais sobre isso. Suba ao ponto mais alto do Pisga e olhe para o Oeste, para o Norte, para o Sul, e para o Leste. Veja a terra com os seus próprios olhos, pois você não atravessará o Jordão’ “. Sabemos que Moisés morreu sem entrar na Terra Prometida, e que apesar da intimidade que tinha com Deus, não foi possível reverter tal situação.

Demos um salto até o Novo Testamento, e olhemos para Paulo, um ícone da Igreja Primitiva, herói da fé e referência para o cristianismo, convivia com um tormento que ele denominou mensageiro de Satanás, espinho na carne. Há discussões sobre o que seria esse espinho, pois as hipóteses são várias: desde problemas com a visão (pela ocasião de sua conversão) , um casamento mal fadado (especula-se que Paulo tenha sido casado, afinal falou com muita propriedade sobre casamentos), problemas com a fala, lembranças ou uma fraqueza a que Paulo era tentado constantemente. O que temos certeza é que Paulo orou suplicando que Deus o livrasse desse incômodo, porém em 2 Coríntios 12:9 Paulo nos conta qual a resposta obtida: “Mas ele me disse: ‘Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim”.

É preciso ensinar a palavra verdadeira, desmistificar o conteúdo bíblico e conscientizar as pessoas que buscam no evangelho um alívio para a alma de que em nossa relação com Deus, não somos nem coadjuvantes, nem estamos em posição de “obrigar” Deus a remediar situações. Em nosso relacionamento com Deus, orar é verbalizar sentimentos, desejos e admirações, e através da oração é possível compreender o que Deus pensa a respeito de nós e de nossas escolhas. O livre arbítrio existe para que possamos traçar nosso caminho. Façamos escolhas sabendo que sim, há coisas impossíveis e que há coisas que Deus não interfere. A libertação que vem através do conhecimento passa por exigir que líderes preguem um evangelho puro e verdadeiro, e não que preguem um evangelho cujo discurso seja projetado para agradar um maior número de ouvidos e manter ofertantes no rebanho.

“Não andeis ansiosos por coisa alguma, antes em tudo sejam conhecidos os vossos pedidos diante de Deus pela oração e pela súplica com ações de graças. A paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é venerável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude e se há algum louvor, seja isso o que ocupe os vossos pensamentos… Sei ainda viver na penúria, e sei também viver na abundância; em tudo e em todas as coisas sei o que é ter fartura e ter fome, ter abundância e padecer necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece”. -Filipenses, 4:6-8, 12-13.

Postado por @TiagoT83 via tiagochagas.wordpress.com

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